@Marcello Casal Jr/Agência Brasil |
De acordo com Lydiane Streapco, professora de Psicologia do Centro Universitário São Camilo em São Paulo, a situação vivida em todo o planeta era impensável há poucos meses por causa do domínio absoluto da ciência e da disponibilidade de tecnologia para inclusive deter doenças.
“Nossa geração estava muito vaidosa de que não experimentaria riscos de morte em massa, como ocorreu no passado. A natureza, agora, impõe nova realidade.” Para ela, a situação nos desequilibra, “mexe a fundo com o bem-estar e abala as relações entre as pessoas.”
“A mudança de hábito teve que ocorrer muito rapidamente e algumas pessoas podem se sentir angustiadas”, disse a acadêmica que, como milhões de brasileiros, mudou sua rotina. Além de trabalhar de casa, ela teve de assumir integralmente os cuidados com os filhos, de 6 e 8 anos.
Interação e conflito
A psicóloga Célia Fernandes, da Enfoque Clínica de Psicologia em Brasília, também está se adaptando e atendendo seus pacientes de casa por meio do computador e do celular. As tecnologias que viabilizam o teletrabalho, compras e diversão, não contornam, entretanto, os problemas da interação humana.
Segundo ela, conflitos podem surgir na família, entre pais e filhos e entre os casais. “O conflito é normal. Precisamos trabalhar a comunicação, compreender que temos personalidades diferentes e interesses diferentes.”
Célia recomenda a organização e o estabelecimento de regras sobre a divisão do tempo e do espaço que permitam o trabalho e a rotina de descanso. Para quem tem filhos, é importante dar atenção às crianças e ao lazer infantil. Já para adultos, é importante incluir na rotina a realização de atividades de interesse pessoal, como estudo, leitura ou diversão - como assistir filmes e até maratonar diversos episódios das séries preferidas. “Como já ocorria em finais de semana. Precisamos adotar medidas comuns, já que vamos passar mais tempo juntos.”
Ela alerta, entretanto, que, a despeito de combinados caseiros, o confinamento vai trazer dificuldades adicionais. “O confinamento vai sim agravar o estado emocional daquelas pessoas que já tinham algum transtorno ou distúrbio emocional, como são os casos das ansiedades e vai gerar conflitos entre as pessoas que não tinham o hábito de ficar tanto tempo em família”.
Excesso de notícias
Além do vírus, as pessoas precisam estar atentas a outras adversidades do cotidiano em tempo de pandemia. Célia Fernandes orienta seus pacientes para que “não se afoguem” em informações. Ela alerta que “mudar de um telejornal para outro gera ansiedade, angústia e sofrimento emocional”.
A professora Lydiane Streapco se preocupa com o excesso de exposição ao noticiário sobre covid-19., especialmente telejornais que possam ter tom sensacionalista. Ela também alerta para a veiculação de notícias falsas por meio das redes sociais.
Apesar das dificuldades impostas pela reclusão, dos riscos de superexposição midiática ao novo coronavírus e das possibilidades reais de contaminação e alastramento da covid-19, a professora acredita que a pandemia não terá o desfecho dos romances distópicos. “É bom as pessoas não terem medo. As distopias acabaram no passado por causa do ímpeto humano de enfrentá-las.” As informações são da Agência Brasil.
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